sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CHEGA DE EMBROMAÇÃO!

Mato cresceu entre as novas arquibancadas em razão da obra parada


A recente decisão da FIFA de não relacionar Porto Alegre entre as sedes da Copa das Confederações causou muito choro e ranger de dentes entre políticos e empresários gaúchos: os primeiros, pela evidente demonstração de desprestígio e falta de influência; os segundos, pela desagradável sensação de quem tem o pão tirado da boca antes de ter o tempo de mordê-lo.

A quebrar a atmosfera de velório, algumas risadas contidas dos nossos amigos da Azenha, como que saboreando mais um gol na centenária história do gre-Nal. Afinal, desde a escolha do Beira-Rio como sede para a Copa do Mundo, Colorados em geral comemoraram o fato como mais uma prova da pujança de um Clube que, mesmo sediado em um mercado secundário como o Rio Grande do Sul, conseguiu construir um patrimônio superado por poucos clubes no mundo e, no Brasil, somente pelo poderoso São Paulo F.C.

Vale a pena usar o episódio para lembrar que o Beira-Rio é o maior estádio do Sul do Brasil desde 1969, e que só deixou de ser também o melhor trinta anos depois, quando o Atlético Paranaense inaugurou a sua Arena. Mesmo assim, as numerosas reformas realizadas no Beira-Rio nos últimos anos modernizaram significativamente a Casa dos Colorados, até que, em meados de 2007, veio a público um ambicioso plano de remodelamento que tornaria o Beira-Rio um estádio apto a satisfazer todos os exigentes padrões da FIFA, devolvendo o Internacional à posição de vanguarda que acostumou-se a ostentar.

O projeto arrojado eliminaria a antiga Coreia, projetando a arquibancada inferior até o gramado, eliminando o fosso; substituiria os antigos camarotes por modernas suítes, a exemplo das já construídas, e as estenderia por todo o anel intermediário do estádio. A principal vantagem desse projeto está em sua concepção modulada, permitindo a execução das obras sem a necessidade de interdição do estádio, e sobretudo, permitindo ditar o ritmo da reforma conforme as condições financeiras do Clube.

Assim, o fluxo de caixa das obras poderia ser compatibilizado com as necessidades do futebol Colorado: parte do dinheiro da venda de nossos talentos poderia ser destinado à obra. O Beira-Rio seria reformado da mesma forma como foi construído: aos poucos e com os próprios recursos do Internacional.

Esse, ao menos, foi o projeto apresentado pela Diretoria e aprovado pelo Conselho Deliberativo. Nesse meio tempo, o Brasil foi escolhido em outubro de 2007 para realizar a Copa do Mundo de 2014 e o Beira-Rio foi escolhido como uma das doze sedes do torneio. Tudo então mudou de figura, pois, a partir daí, o Internacional não seria mais senhor do tempo da execução da obra, a qual teria de estar pronta com a antecedência exigida pela FIFA. Mesmo assim, o Clube não mudou sua postura e assumiu perante a União, o Estado do Rio Grande do Sul e o Município de Porto Alegre o compromisso de executar as obras necessárias, por conta própria e a tempo para a Copa (segundo o Portal do Governo Federal, as obras do Beira-Rio estarão concluídas em dezembro de 2012...).

A circunstância de estar entre os estádios da Copa abriu para o Internacional a perspectiva da obtenção de alguns benefícios para a execução da obra. Infelizmente, o mesmo governo federal disposto a enterrar centenas de milhões de reais na construção de estádios públicos condenados a virar elefantes brancos após a Copa não abriu créditos para os clubes proprietários de estádios-sedes (ou seja, o Internacional e o Atlético-PR), para os quais as isenções tributárias sobre os bens e serviços necessários às obras constituirão o único incentivo financeiro.

Ante tal cenário, o presidente Vitório Piffero encerrou o seu mandato lambendo as feridas do fiasco perante o tout puissant Mazembe com o ronco das máquinas botando abaixo as arquibancadas do Portão 2. Poucos dias depois, o presidente Giovanni Luigi tomou posse e algo mudou: o ex-secretário Aod Cunha de Moraes, feito ao arrepio do Estatuto o CEO (gerente executivo, para nós que ainda gostamos de falar português) do Internacional, chegou à conclusão de que os números financeiros do Clube não permitiriam que nos lançássemos à empreitada da reforma do Beira-Rio com nossas próprias forças.

Teríamos que negociar a execução da obra com uma empreiteira com capacidade financeira para bancar o investimento, ante a contrapartida da exploração dos novos espaços criados (suítes, sky boxes, garagem, etc.). Felizmente, o Conselho Deliberativo não abriu mão de seu papel fiscalizador e, mesmo tendo autorizado a Diretoria a negociar com a empreiteira – a mesma Andrade Gutierrez responsável pela obra bilionária do Maracanã –, reservou-se o direito de dizer a última palavra sobre o acerto somente à vista do contrato. A todas essas, as máquinas continuaram destruindo as arquibancadas até o mês de junho, quando silenciaram à espera de uma definição do contrato.

O tempo foi passando e foi ficando cada vez mais claro um fato incômodo de admitir: embora represente a maior parte do nosso patrimônio imobiliário, o Estádio Beira-Rio está longe de representar um grande negócio para a Andrade Gutierrez. Para uma empreiteira desse porte, habituada à construção de pontes e hidrelétricas, não impressiona a reforma da Catedral dos Colorados.

O envolvimento da construtora dar-se-á na perspectiva direta dos lucros que possa obter da exploração do patrimônio criado na reforma, e aí a porca parece torcer o rabo: a própria engenharia financeira da execução da obra com recursos próprios do Clube pressupunha, além da venda do antigo Estádio dos Eucaliptos, a venda antecipada das suítes a serem construídas no anel intermediário, a qual não rendeu os frutos esperados. Em suma: o negócio talvez não seja tão bom quanto pensávamos ser.

Mais recentemente, a construtora Andrade Gutierrez divulgou uma nota oficial na qual expôs o modelo de negócio que pretende empregar para a reforma do estádio: a ideia é constituir uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) visando à captação de recursos para a obra. Nesse modelo, a empresa assumirá a responsabilidade por apenas 20% dos investimentos, ficando o restante por conta dos investidores que vierem a associar-se à empreitada.

Nessa perspectiva, a demora na formalização dos compromissos entre o Internacional e a empreiteira parece evidenciar menos eventuais divergências sobre o detalhamento de cláusulas que um verdadeiro impasse sobre a rentabilidade do negócio: para o Clube, à vista do desembolso do dinheiro arrecadado com a venda dos Eucaliptos e dos vultosos investimentos já realizados com o estaqueamento das fundações e com a derrubada e reconstrução de parte das arquibancadas, a cessão dos direitos de exploração econômica de áreas nobres do Complexo Beira-Rio por vinte anos parece constituir remuneração satisfatória (se não excessiva); para a Andrade Gutierrez, isso parece não ser suficiente – e talvez a razão esteja com a construtora, pois se a rentabilidade do negócio fosse assim evidente, os sócios para a constituição da SPE já teriam aparecido e o contrato com o Internacional já teria sido celebrado.

Temos então um impasse, que não será quebrado a menos que o Clube esteja disposto a ceder e a oferecer à empreiteira mais do que originalmente se pensava (afinal, é o Internacional quem está com um estádio semidestruído e pressionado com a perspectiva do descredenciamento para sediar os jogos da Copa do Mundo). Esse impasse tem de ser rompido.

As burras do BNDES estão fechadas para os Clubes, razão pela qual São Paulo mobilizou o poderio do governo do Estado e do Município em favor do futuro estádio corintiano de Itaquera, em um gesto de irresponsabilidade fiscal que levou o Estado do Paraná e o Município de Curitiba a socorrerem a obra da Arena da Baixada. Quanto ao Estado do Rio Grande do Sul e o Município de Porto Alegre, a própria circunstância da construção acelerada da Arena do Grêmio impediria solução semelhante (mesmo que os cofres públicos não estivessem na conhecida situação de penúria). O que fazer, então?

Não há mais tempo a perder com a Andrade Gutierrez: enquanto o Internacional investiu seus próprios recursos, as obras do Beira-Rio avançaram até o estágio atual; desde que resolveu mudar de rumo, só o mato cresceu sob as novas arquibancadas.

A limitação do compromisso da empreiteira com apenas um quinto do investimento contraria a própria lógica que nos levou a trocar o modelo de autofinanciamento pela busca de uma parceira com cacife financeiro para custear o porte da obra. Por isso, chega de embromação: o Clube deve encerrar oficialmente as negociações e voltar a executar as obras por sua própria conta. Evidentemente, o Internacional não dispõe dos recursos necessários para completar o projeto “Gigante para Sempre” a tempo para a Copa do Mundo; contudo, a construção do anel inferior das arquibancadas e a pavimentação do entorno do estádio não parecem estar além das possibilidades do Internacional, ainda que à custa da mobilização dos mais de cem mil associados do maior Clube do Brasil.

A moderna e custosa construção da cobertura de aço pode esperar; o edifício-garagem também (mesmo que essa obra pareça de fácil viabilização à vista do florescimento do negócio de estacionamentos em Porto Alegre). Trata-se tão-somente de dar seguimento às obras de modernização que tanto qualificaram o Estádio Beira-Rio ao longo dos últimos anos, de forma a deixá-lo ainda mais confortável para os torcedores Colorados.

E quanto à Copa do Mundo? Não sei. A FIFA tem muito tempo ainda para descredenciar estádios e sedes (já foi dito que pelo menos quatro cidades estão sobrando...). O que importa é melhorar as condições do Beira-Rio para nosso próprio uso. Se a FIFA considerar essas condições adequadas, ficaremos honrados em receber os jogos da Copa do Mundo em nossa Casa; mas o Internacional não deve e não pode contrair dívidas e alienar seu patrimônio apenas para gozar desse prestígio.

O Estádio Beira-Rio foi construído ao longo de mais de uma década, a partir de milhares de contribuições anônimas de Colorados apaixonados. A mesma paixão que matou no nascedouro há dez anos a ideia de demolir o estádio para a construção de uma arena mostra por quê não podemos insistir com um modelo que nos empatou o ano de 2011 e já nos custou a Copa das Confederações. O Beira-Rio é nosso! E assim deverá continuar.


Fernando Baptista Bolzoni
sou MAIS INTER
Conselheiro do Movimento Mais Inter


Um comentário:

  1. finalmente um grupo politico de verdade, dizendo o que pensa sobre as reformas do Inter. Chega do murismo e da enrolação que vejo em todos conselheiros do Inter. Fora copa do mundo, fora Andrade Gutierrez

    Carlos Jebowiski
    Socio colorado

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